sábado, 14 de janeiro de 2012

Volta Redonda registrou mais de 1,7 mil ocorrências devido às chuvas

Volta Redonda já sofre com as consequências das chuvas que caem em todo o Sul Fluminense: segundo a Defesa Civil, foram registradas 1,7 mil ocorrências desde o início do Período de Alerta, em novembro do ano passado, superior às 1.200 registradas entre janeiro e novembro de 2011. Quase diariamente, toda a cidade tem recebido um grande volume de água, o que causa alagamentos com o transbordamento de córregos e bueiros. A dúvida da população é se, ao longo do ano, a prefeitura tem realizado obras e serviços para evitar os transtornos que sempre se repetem nos meses de verão. Para averiguar, a reportagem do DIÁRIO DO VALE buscou a resposta junto aos órgãos municipais competentes pelos diversos cuidados necessários em cada caso.
Quando a chuva chega, normalmente vem acompanhada de forte ventania, o que pode resultar num cenário de verdadeira destruição, com quedas de árvores e de barrancos. Neste momento, a Defesa Civil é chamada para avaliar as condições do local e tomar as primeiras providências. De acordo com o major Rodrigo Ibiapina, coordenador do órgão em Volta Redonda, todo ano, a partir do dia primeiro de novembro, o prefeito decreta o chamado "Período de Alerta", situação que permanece até 31 de março.
- São cinco meses de atenção para os problemas climáticos, já que se trata de um período de histórico de chuvas fortes. Esse decreto tem como objetivo deixar toda a estrutura do município à disposição da Defesa Civil para ações que forem necessárias em situações de catástrofes e tragédias naturais - explicou.
Para justificar a real necessidade do decreto, o coordenador citou a quantidade de ocorrências durante 2011, fora do "Período de Alerta". Até o último dia de outubro, a Defesa Civil registrou 1.284 ocorrências. Do dia primeiro de novembro até o início de janeiro, já foram atendidas mais de 1,7 mil.
- Ainda nem chegamos à metade do Período de Alerta e a quantidade de ocorrências já superou o restante do ano - observou Ibiapina.
Ele contou que, durante esta época, o trabalho da Defesa Civil é corrido - as equipes realizam vistorias e intervenções imediatas, como a interdição de casas. Para isso, o órgão conta com a parceria das secretarias de Obras e de Serviços Públicos, a Smac (Secretaria Municipal de Ação Comunitária) e o Furban (Fundo Comunitário de Volta Redonda). Fora do Período de Alerta, o órgão realiza um trabalho voltado à prevenção, com palestras junto a associações de moradores, vistorias técnicas e orientações à população sobre segurança.
- Ao fim de cada Período de Alerta, realizamos uma reunião junto às secretarias de Obras e Planejamento, e ao Furban, em que fazemos uma avaliação daquele período. Essa análise é baseada nas intervenções feitas, de modo a apontar a necessidade e viabilizar obras nos locais afetados pelas chuvas - detalhou.
Segundo Ibiapina, as obras são realizadas com prioridade para os pontos em que seja afetado um número maior de pessoas ou que apresentem risco.
- Locais que sofreram intervenção da Defesa Civil não voltaram a apresentar os mesmos problemas no Período de Alerta seguinte - ressaltou, confirmando a eficácia dos atendimentos.

R$ 5 milhões em contenções em 2011

Na Secretaria Municipal de Obras, a prioridade é para os serviços de contenção de encostas. De acordo com o secretário de Obras de Volta Redonda, José Jerônimo Telles Filho, em 2011, cerca de R$ 5 milhões foram investidos nesse tipo de obra. Além das contenções, a pasta vem realizando as chamadas obras de drenagem urbana, que consistem em serviços como a substituição de manilhas antigas e a canalização de córregos.
- Posso citar como exemplo a canalização de cerca de 400 metros do córrego Vila Rica, o que deverá ser concluído nos próximos três meses. É uma obra complexa, que vai evitar as enchentes nos bairros Tiradentes e Vila Rica - citou Jerônimo.
Ainda sobre o local, o secretário explicou que o que a prefeitura realiza ali é um conjunto de obras, que envolve a instalação de uma galeria de 4 metros de comprimento por dois metros de altura, em substituição de passagem na Rodovia dos Metalúrgicos.
- Com o fim dessas obras e o asfaltamento do local, o problema das enchentes nos bairros próximos será totalmente eliminado - garantiu.
Outra realização da Secretaria de Obras citada por Jerônimo é a contenção das margens do canal do Aterrado, próximo ao quartel dos Bombeiros. De acordo com o secretário, a intervenção foi orçada em mais de R$ 1 milhão.
- Esse projeto vai evitar inundações na Avenida Getúlio Vargas e no bairro São Geraldo, de onde vem a água que corre para o canal. Esse transporte não era tratado e qualquer elevação do Rio Paraíba causava a retenção de água, o que gerava erosão da margem - explicou Jerônimo, ressaltando que a obra está paralisada até o fim do período das chuvas, para evitar perdas.
Na Vila Santa Cecília, onde o córrego Brandão quase sempre transborda com chuvas fortes, a situação não é simples. Para Jerônimo, o sistema do bairro, com mais de 50 anos, apresenta deficiências difíceis de serem solucionadas.
- São manilhas antigas, além da grande quantidade de folhagens que os córregos arrastam quando enchem. Estamos constantemente tentando melhorar, mas para uma solução imediata seria necessário quebrar ruas e casas próximas, o que é inviável. Por isso, optamos pela limpeza constante do Brandão, o que tem ajudado - completou.
Na avaliação do secretário, a eficácia das obras realizadas em 2011 já vem sendo comprovada, visto a não repetição de transtornos em locais atendidos pela secretaria. A razão do resultado positivo também é atribuída, por Jerônimo, à participação da população, por meio do Orçamento Participativo.
- Até o momento, não registramos nenhum caso grave de deslizamento na cidade. Acredito que investimos onde era necessário, graças à participação dos moradores - constatou.

Entre 2010 e 2011, R$ 10 milhões foram para as áreas de posse

De acordo com o presidente do Furban (Fundo Comunitário de Volta Redonda), Marco Antônio Faria Marques, foram investidos entre 2010 e 2011 cerca de R$ 10 milhões em obras pontuadas nas áreas de posse da cidade, que já totalizam 174.
- Realizamos mais de cem obras de contenção, entre trabalhos de prevenção e correção. A maior parte, porém são os preventivos - adiantou Marques.
Ele explicou que, no Furban, o serviço é realizado em conjunto com as associações de moradores, a população e o conselho comunitário do Fundo. Além disso, leva-se em conta o Orçamento Participativo e os apontamentos dos técnicos da autarquia para a realização de obras nas áreas de posse - que quase sempre se convertem nas áreas de risco em casos de tragédias naturais.
Segundo Marques, até o momento, cerca de 50 obras de contenção já estão previstas para acontecer em 2012. Esse total representa um investimento de R$ 4 milhões. 
- Além disso, são feitos trabalhos como reparos de deslizamentos frequentes e a contenção de encostas e terrenos que se deterioram com a ação do tempo - detalhou.
Para o presidente do Furban, a menor quantidade de serviços previstos está intimamente relacionada com os trabalhos executados no último ano. Ele afirmou que a ação da autarquia ocorre diariamente, independentemente do período de chuvas.
- É um trabalho muito dinâmico, que precisa ter continuidade. A cada ano, surgem novas necessidades. Onde não precisa de obras agora pode precisar daqui a seis meses, tudo pode acontecer com a ação do tempo - resumiu.

Mudanças climáticas X evolução da engenharia

Para o secretário de Planejamento, Lincoln Botelho, a evolução tecnológica não acompanha as mudanças climáticas. Segundo ele, as transformações vêm acontecendo a um passo rápido e nem as cidades mais estruturadas conseguem evitar as tragédias. Para Lincoln, a ocupação das cidades ocorre de maneira igualmente acelerada, o que torna os municípios cada vez mais impermeáveis.
- As pessoas reclamam que não há providências em relação a esse crescimento, mas em Volta Redonda, por exemplo, muito se tem feito com base na engenharia disponível. O que acontece hoje é que os fenômenos estão além dessa estrutura - analisou.
O secretário de Planejamento afirmou que Volta Redonda sempre foi um município bem estruturado, com muitos recursos, em comparação com outras cidades. Mas hoje, saliente, a tecnologia e o conhecimento humano permitem que problemas sejam detectados, porém nem sempre solucionados.
Com base nessa realidade - que não é local -, já existem duas novas leis federais - uma aprovada em 2007 e outra em 2010 - que exigem a criação de planos especiais pelos municípios. A primeira exige a elaboração do chamado Plano Básico Municipal de Saneamento Ambiental. E a segunda, que a complementou em 2010, prevê um plano específico para o tratamento dos Resíduos Sólidos Urbanos. Ambos deverão ser apresentados pelas cidades até 2013.
- É uma estratégia para tratamento correto da água potável, esgoto e lixo, com planos de drenagem urbana. Há pouco tempo não havia a exigência dos planos integrados e Volta Redonda, pioneira, sempre teve esses serviços - acrescentou Lincoln.
Segundo o secretário, ainda no início deste ano a prefeitura vai abrir concorrência para a contratação da empresa que vai elaborar o plano na cidade.
- Esse não é um problema só da engenharia, mas que deve ser discutido por toda a sociedade. É preciso, além de tudo, uma mudança de comportamento. Há locais na cidade, por exemplo, que nunca poderiam ter sido ocupados pela possibilidade de alagamento - citou.
Ainda de acordo com Lincoln Botelho, um grande projeto precisa ser elaborado para que diversas áreas sejam desocupadas de modo a solucionar os problemas das cheias em Volta Redonda.               


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